Resolvi ir pra praia hoje, sabe? O dia não tava aquela coisa maravilhosa, meio nublado, mas eu precisava sentir a areia, ouvir o mar. Fui meio sem rumo, só pra espairecer mesmo.
Chegando lá, sentei num quiosque meio vazio, pedi uma água de coco. Fiquei olhando as ondas, aquela coisa toda que a gente faz pra fingir que tá relaxando. Aí, no meio daquela paz forçada, eu vi. Uma gatinha. Magrinha, pelo meio sujo de areia, olhando pros lados, toda perdida. Coisa mais estranha um gato na praia, né? Ainda mais filhote assim.
Aquilo me deu um nó na garganta
Não sei porquê, mas ver aquele bichinho perdido me lembrou de umas coisas. Lembrei do Biscoito, um cachorro que tive quando era moleque. Ele fugiu uma vez, fiquei desesperado. Rodamos o bairro todo, meu pai e eu. Colamos cartaz, perguntamos pra todo mundo.
- Acharam ele dois dias depois, numa rua lá longe.
- Tava assustado, mas bem.
- Aquele alívio, sabe? Nunca esqueci.
É engraçado como uma coisinha pequena, tipo essa gatinha na areia, te joga pra longe no tempo. Me peguei pensando em como a gente se apega, como a gente se preocupa. E como tem coisa que a gente simplesmente não controla. A gatinha tava lá, sozinha. Eu podia tentar pegar? Podia. Levar pra casa? Talvez. Mas e depois?
A vida é cheia dessas coisas. Você vê um problema, uma coisinha fora do lugar, e na hora pensa em mil soluções. Mas nem sempre dá pra resolver tudo. Às vezes, a gente só observa. Ou tenta ajudar um pouquinho e torce pra dar certo.
Fiquei mais um tempo ali. A gatinha sumiu por entre as barracas. Não sei se alguém cuidou dela, se ela achou um canto. Terminei minha água de coco e vim embora. O mar continuava lá, as ondas batendo. E eu voltei com essa pulga atrás da orelha, pensando na gatinha e no Biscoito. É, ir pra praia às vezes serve pra pensar mais do que pra relaxar.