Falar de futebol no Nordeste é falar de uma paixão que ferve, né? Coisa que a gente vê na TV, nos estádios lotados. Mas nem sempre é só festa e arquibancada cheia.
Eu tive uma ideia uns tempos atrás, coisa simples na minha cabeça. Queria mapear os campinhos de várzea aqui na minha área, sabe? Onde a molecada joga de verdade, onde o futebol raiz ainda respira. Pensei: “Ah, isso aí eu faço num fim de semana, tiro umas fotos, marco no mapa, beleza.” Doce ilusão.
Comecei animado. Peguei minha bicicleta velha e saí rodando. Fui nuns bairros mais afastados. Primeira surpresa: muito campo que eu lembrava da minha juventude simplesmente não existia mais. Virou prédio, virou estacionamento, virou nada.
Beleza, foquei nos que ainda existiam. Fui conversar com o pessoal. Chegava lá, via a galera batendo uma bola. Tentava puxar assunto: “E aí, pessoal, tudo bom? Esse campinho aqui funciona como? Tem time fixo? Quem cuida?”. Rapaz, a reação era variada.
- Tinha gente boa, que explicava, contava história.
- Mas tinha muito olhar desconfiado. “Pra que você quer saber disso?”
- Alguns achavam que eu era da prefeitura, querendo cobrar alguma coisa ou tirar o campo deles.
- Outros simplesmente mandavam eu passear, com palavras não muito educadas.
A Realidade Bateu Forte
Percebi que cada campinho daqueles era um universo próprio. Tinha dono (não oficial, claro), tinha regra, tinha briga antiga com o campo do bairro vizinho. Uma vez, quase me meti numa confusão porque cheguei pra tirar foto bem na hora que tinha acabado um jogo pegado, com discussão e tudo. O pessoal achou que eu estava registrando a briga.
Era muito mais complicado do que parecia. Não era só chegar e mapear. Exigia tempo, paciência pra ganhar confiança, entender as dinâmicas locais. Aquela ideia de fazer rapidinho foi pro espaço. Eu queria só mostrar onde o futebol acontecia de verdade, mas a verdade era bem mais crua.
Acabei desistindo do mapeamento completo. Fiz umas anotações pra mim, guardei umas fotos, mas o projeto grandioso que imaginei ficou pelo caminho. O futebol do Nordeste que a gente ama nos grandes clubes é lindo, mas o futebol da base, da várzea, esse tem uma luta diária pra sobreviver que pouca gente vê. Foi isso que aprendi na prática, pedalando e tomando porta na cara.