Sabe, essa onda de querer tudo “qck”, tudo pra ontem, às vezes me cansa um bocado. Parece que virou moda, né? Todo mundo correndo, falando em agilidade, em entregar rápido, mas será que param pra pensar no custo disso?

E por que eu tô falando isso com tanta convicção, com essa cara de quem já viu esse filme? Ah, meus amigos e minhas amigas, senta que lá vem história. Eu já estive no olho do furacão dessa filosofia do “qck” a qualquer preço, e vou te dizer, a experiência não foi das melhores.
Eu trabalhava numa empresa, vamos chamar ela carinhosamente de “Os Apressadinhos LTDA.” Lá, o lema era um só: “QCK, QCK, QCK!”. Não importava a complexidade da tarefa, o chefe, um tal de Seu Antunes – nome fictício, claro, pra não dar problema – queria tudo na velocidade da luz. Se pudesse entregar antes de pedir, melhor ainda.
Lembro de um projeto em particular que me marcou ferro e fogo. Era pra desenvolver um sistema de agendamento online, uma coisa até que bacana. Só que o Seu Antunes cismou que a gente tinha que lançar aquilo em UM MÊS. Isso mesmo, um mês! Um sistema que, qualquer um com o mínimo de juízo, saberia que precisaria de uns três, talvez quatro meses pra ser feito com decência, com testes, com tudo direitinho.
A gente da equipe técnica, eu e mais uns dois ou três coitados, tentamos argumentar. Falamos: “Olha, Seu Antunes, com todo respeito, mas em um mês vai ser complicado. A gente precisa de mais tempo pra testar, a base de dados não tá preparada pra esse volume todo de uma vez, vai dar ruim”. Sabe o que ele respondeu? Deu um soco na mesa e gritou: “QCK! QCK! Temos que ser os primeiros! A concorrência tá vindo! Dinheiro não espera!”. Faltou só estalar o chicote.
Pois bem, fomos na pressão. Viramos noites, tomamos café que dava pra abastecer um caminhão, e o tal sistema foi pro ar no prazo que ele queria. E o resultado? No primeiro dia de lançamento, o sistema caiu umas CINCO VEZES. Agendamentos sumiam, outros apareciam duplicados, gente pagava e o sistema não registrava. Virou um CAOS total. O telefone da empresa não parava de tocar, era cliente xingando de tudo quanto é nome, e com razão!
E o Seu Antunes, o gênio da velocidade? Nos primeiros dias da crise, sumiu. Deu uma de avestruz. Depois, quando a poeira baixou um pouquinho – ou ele achou que tinha baixado – apareceu numa reunião, com a maior cara de paisagem, e soltou a pérola: disse que a equipe técnica “não foi ágil o suficiente pra prever e corrigir os problemas”. Dá pra acreditar? QUÊ? A gente que tinha avisado que ia dar M! Que o prazo era ridículo! Fiquei engasgado na hora.
Aquilo me subiu o sangue de um jeito que vocês não fazem ideia. Passei semanas apagando incêndio, dormindo picado, minha saúde foi pro espaço. Cheguei a ter crise de ansiedade por causa daquela maluquice toda, daquela pressão desumana por um “qck” que só serviu pra gerar mais problema e mais trabalho dobrado.
Não demorou muito e pedi as contas. Simplesmente não dava mais pra trabalhar num ambiente daqueles, onde a qualidade era a última preocupação e o bem-estar da equipe era zero. Hoje, quando eu ouço essa conversa fiada de “qck” a todo custo, essa obsessão por velocidade sem medir as consequências, eu respiro fundo e lembro de tudo isso. Aprendi na marra que o ditado da minha avó, “a pressa é inimiga da perfeição”, é a mais pura verdade. E olha que ela não entendia nada de desenvolvimento de software, mas de vida, ah, disso ela entendia muito.
Às vezes, o caminho que parece mais “qck” é só um atalho bonito pra uma baita dor de cabeça lá na frente. Eu, particularmente, prefiro mil vezes o caminho bem feito, aquele pensado, testado, mesmo que ele demore um tiquinho a mais. O resultado final compensa, e a paz de espírito também.
E essa lição, meus caros, levo pra vida, não só pro trabalho. Desde fazer um simples bolo até construir uma relação. Se você apressa demais o forno, o bolo queima por fora e fica cru por dentro. Se você atropela as etapas num relacionamento, a chance de desandar é grande. O “qck” pode ser tentador, mas aquilo que é sólido, que é bom de verdade, geralmente leva seu tempo pra ser construído. Pensem nisso!