Olha, essa história com a tal da guaeca… começou meio que por acaso, sabe? Eu estava numa fase de querer fazer algo diferente, sair da rotina. Pensei: “Ah, vou tentar organizar um negócio lá, chamar uns amigos, fazer um churrasco simples”. Parecia uma boa ideia na época.
O Plano Inicial
Minha ideia era bem básica mesmo. Pegar um fim de semana, ir praquele canto que chamam de guaeca – nem sei direito o porquê do nome, mas o pessoal falava que era tranquilo. Levar umas carnes, cerveja, violão… coisa pouca, só pra relaxar. Mandei mensagem pra uns quatro ou cinco amigos mais chegados.
No começo, todo mundo animou. “Opa, tô dentro!”, “Vai ser legal!”, “Precisando disso!”. Aquela empolgação inicial que a gente conhece bem. Já comecei a pensar nos detalhes, quem levaria o quê, essas coisas.
A Realidade Bateu
Chegou perto da data, e aí a coisa começou a mudar. Um disse que a sogra vinha visitar bem no dia. Outro lembrou que tinha um compromisso da igreja que não podia faltar. O terceiro falou que a grana apertou naquele mês. No fim das contas, dos cinco, só sobrou eu e talvez um outro que estava em cima do muro.
- Desculpa 1: Visita inesperada da família.
- Desculpa 2: Compromisso religioso “inadiável”.
- Desculpa 3: Falta de dinheiro de última hora.
- Resultado: Quase ninguém podia ir.
Aquilo me deu um balde de água fria, confesso. Não pela guaeca em si, que no fundo era só um pretexto. Mas pela situação toda. Me lembrou muito uma época complicada que passei uns anos atrás.
Lembranças de Outros Tempos
Naquele tempo, eu tava trabalhando numa empresa que parecia boa no papel. Salário OK, uns benefícios. Mas o ambiente… nossa senhora. Era uma competição danada, um querendo puxar o tapete do outro. E eu, meio bobo, achando que tinha feito amigos lá dentro.
Aí veio uma reestruturação. Cortes, demissões. Meu nome estava na lista. Fiquei sem chão. Pior foi ver a galera que almoçava comigo todo dia, que batia papo no café, simplesmente virar a cara. Ninguém pra dar uma palavra de apoio, um “poxa, que chato”. Sumiram.
Fiquei uns meses bem mal, mandando currículo pra todo lado, conta chegando. Minha esposa na época (hoje ex) também não ajudava muito, só cobrava. Foi um período escuro, de verdade. Tive que me virar sozinho, pegar uns bicos que nem imaginava fazer, só pra pagar as contas básicas.
Engraçado que foi nessa época que aprendi a me virar de verdade. Comecei a fazer uns consertos de computador pra vizinhança, coisa que eu sabia fazer mas nunca tinha pensado em cobrar. Depois um freela de redação aqui, outro ali. Fui me achando, sem depender daquela “galera” da empresa.
Voltando à Guaeca
Então, quando o pessoal começou a pular fora do lance da guaeca, me veio essa lembrança forte. Não fiquei bravo com eles, cada um tem seus problemas. Mas me fez pensar de novo sobre expectativa e realidade, sobre contar com os outros.
No fim, acabei nem indo pra tal da guaeca. Peguei o dinheiro que ia gastar, comprei umas coisas pra casa que estava precisando. Fiz um churrasco aqui mesmo, só eu e minha companheira atual. Foi bem mais simples, mas foi real. Sem depender da boa vontade alheia.
A guaeca ficou pra outra hora. Ou talvez nem fique. Aprendi que às vezes o melhor plano é não fazer plano nenhum e só aproveitar o que dá pra fazer com quem realmente está do seu lado. É menos frustrante, com certeza.