Sabe como é, né? A gente sempre ouve falar do Boca Juniors. Aquela mística toda, La Bombonera que treme, a torcida fanática, La Doce… Eu, pra ser sincero, sempre achei um pouco de exagero. Claro, futebol é paixão, mas aquela intensidade toda me parecia coisa de outro mundo. Até que um dia, sei lá porquê, me bateu uma curiosidade diferente. Pensei comigo: “Quer saber? Vou tentar entender esse negócio a fundo. Vou mergulhar nessa de ‘ser’ torcedor do Boca, nem que seja só pra ver qual é a desse troço todo.” E foi aí que minha ‘prática’ começou.

O Início da Minha Jornada Xeneize
Primeira coisa que fiz foi uma imersão total. O YouTube virou meu companheiro de todas as horas. Devorei documentários sobre a história do clube, vídeos da torcida cantando por horas a fio, lances históricos, aquelas coisas que arrepiam. Impressionante, de verdade. Comecei a tentar aprender as músicas, os cânticos. No começo, confesso, minha pronúncia era uma lástima, parecia que eu tava tentando invocar algum espírito antigo, misturando espanhol com portunhol e sei lá mais o quê. Minha esposa até estranhou, me pegava murmurando uns “Dale Booooca” perdido nos pensamentos.
Depois, senti que precisava de algo mais palpável. Fui atrás de uma camisa. Não foi fácil achar uma por aqui que não custasse um rim, mas encontrei uma, aquela azul y oro, clássica. Cara, quando eu vesti aquela camisa pela primeira vez, mesmo sabendo que era só um pedaço de pano, senti um negócio diferente. Parecia que eu tava vestindo um pouco daquela história toda, uma responsabilidade, saca? Comecei a usar em dia de jogo, mesmo que fosse pra assistir sozinho na sala.
Aí veio a parte de acompanhar os jogos pra valer. E não só os da Libertadores ou os clássicos contra o River. Passei a ver os jogos do campeonato argentino, aqueles confrontos mais modestos, muitas vezes de madrugada. E como eu sofri! Porque, se tem uma coisa que aprendi rápido, é que ser Boca Juniors é um exercício constante de paciência e sofrimento. Cada partida era um parto. Eu lá, no sofá, xingando o juiz, o bandeirinha, os jogadores quando faziam uma besteira, tudo num portunhol que só eu entendia. Era uma montanha-russa de emoções.
- A tensão antes de cada jogo importante.
- A raiva com um gol sofrido nos acréscimos.
- A alegria indescritível de uma vitória suada.
A Descoberta e o Que Ficou
Teve um dia específico, um jogo contra o River, um Superclásico. Combinei com uns amigos de assistir. Eu, todo paramentado com minha camisa do Boca, cheguei lá cantando as músicas que tinha “ensaiado”. Perdemos. E perdemos feio. Saí de lá completamente arrasado, ouvindo as piadinhas dos meus amigos. Naquele momento, pensei: “Pra que isso? Pra que esse sofrimento todo? Não vale a pena.” Fiquei uns dias meio desanimado com essa minha ‘prática’.
Mas aí, no jogo seguinte, um jogo qualquer do campeonato, sem tanta badalação, o time ganhou com um gol chorado no finalzinho. E a explosão de alegria que eu senti, sozinho na minha sala, foi algo que me surpreendeu. Não era só a vitória. Era o alívio, era quase uma recompensa por toda aquela tensão acumulada, por toda a ‘fé’ depositada. Foi ali que a ficha começou a cair de verdade. Não é só sobre ganhar ou perder. É sobre pertencer, é sobre sentir aquela paixão que une milhões de pessoas, mesmo que essa paixão te leve à beira de um ataque cardíaco semana sim, semana também.

No fim das contas, essa minha ‘prática’ de tentar ser um torcedor do Boca me mostrou uma coisa fundamental: não dá pra ‘praticar’ ser torcedor de um clube como o Boca. Ou você sente, ou não sente. Não é uma escolha lógica, não tem manual de instrução. É um negócio que te pega, te envolve de um jeito que você nem percebe. E eu, que comecei essa história toda meio como um observador curioso, acabei fisgado. Hoje, quando o Boca joga, ainda sinto aquele frio na barriga, aquela ansiedade. E quer saber? Acho que não tem mais volta. Acabei virando mais um desses loucos apaixonados. E, de certa forma, isso é muito bom.